Startups e pequenas empresas não devem esperar para investir em branding. Já no momento em que o fundador decide dar vida ao negócio, a marca começa a ser um dos ativos mais relevantes na trajetória de crescimento. Especialmente no universo de startups, onde ciclos de investimento, aquisição ou entradas em canais de varejo exigem atributos que vão muito além da tecnologia e do produto, a construção da marca precisa andar junto com o desenvolvimento do negócio.
Alvin Toffler, em “Powershift”, já antecipava: os símbolos e ativos intangíveis têm crescido em valor a cada nova fase da economia. Vivemos um tempo no qual dinheiro e bens já não são palpáveis; a percepção sobre uma marca pode ser o passaporte para fechar rodadas de investimento, conquistar acordos estratégicos e até licenciar patentes. Isto é branding estratégico: transformar percepção em vantagem de negócios.
Investidores investem com os olhos, não com a carteira.
Uma marca bem trabalhada transmite clareza, mostra propósito e cria conexão e, frequentemente, vale mais do que os balanços sugerem.
Por que o branding deve começar antes da tecnologia?
É comum o empreendedor priorizar todo o esforço no desenvolvimento de produto ou tecnologia. Só depois pensa na construção da marca. O problema é que isso, além de atrasar o posicionamento, dificulta conversas com investidores e clientes. A marca será o ponto central de todas as comunicações, influenciando percepções desde o primeiro contato.
Além disso, segundo depoimentos do CMO do SoftBank, investir só em performance sem uma estratégia de branding é como navegar sem rumo. Cultura e marca alinham propósito, garantem consistência e abrem portas para crescimento sustentável.
O que é necessário para construir valor de marca?
Antes de listar, sinta: marca é muito mais do que um logo. A construção de valor (brand equity) envolve ação planejada sobre múltiplos aspectos, que, juntos, criam reputação e percepção sólida no mercado. Reunimos um checklist básico do que precisa ser contemplado já na largada, seja sua empresa uma startup em validação ou um pequeno negócio saindo do papel:
- Nome claro, alinhado ao posicionamento e com viabilidade de registro
- Declaração de propósito (purpose statement) objetiva e inspiradora
- Logo inicial aplicável em materiais, demos e apresentações
- Definição visual e narrativa consistente nos canais principais
- Lógica de nomes para produtos/serviços (mesmo que ainda simples)
- Domínio do site e perfis nas mídias sociais (com variações, se necessário)
- Padrão básico de apresentação institucional (pitch deck e one-pagers)
Com esses itens, já é possível apresentar seu negócio de forma profissional e deixar claro para futuros investidores, clientes e parceiros que a operação tem solidez e visão de longo prazo.

Branding por estágio: o que investir em cada fase do crescimento
Embora cada negócio tenha um ritmo próprio, startups seguem padrões reconhecidos de crescimento. O branding precisa acompanhar essa evolução, nem adiantado demais (caro e inútil no início), nem atrasado (que gera retrabalho e perda de percepção de valor).
Fundadores e lideranças tendem a subestimar o quanto branding precisa evoluir conforme o negócio cresce. Cada fase exige uma profundidade e um nível de estrutura diferente.
A seguir, organizamos um guia prático para donos de startups entenderem o que construir em cada fase:
1. Fase de Pré-seed / Seed – Validação, MVP e primeiros Clientes
Nesta etapa, o objetivo não é “ter uma marca perfeita”, mas aparecer com clareza, ganhar confiança rapidamente e não parecer amadora. O branding deve ajudar o negócio a ser compreendido e lembrado enquanto valida produto e encontra seus primeiros sinais de mercado.
Nessa fase, a startup precisa resolver três questões fundamentais:
- como se chama,
- por que existe,
- como será percebida nos primeiros minutos de contato.
Por isso, recomendamos:
Nome claro e registrável:
Evitar nomes complicados, genéricos ou difíceis de pronunciar. O nome precisa comunicar algo, mesmo que sutilmente. Avaliar domínio e possibilidade de registro no INPI garante segurança jurídica e reduz risco de rebranding precoce.
Propósito simples, direto e alinhado ao produto:
Uma frase curta que abre um pitch, uma reunião com parceiro ou a landing page. Ela sustenta a narrativa inicial, especialmente quando o produto ainda está em construção.
Identidade mínima consistente:
Uma paleta reduzida, uma tipografia principal e um logo simples e legível são suficientes. Critério: funciona no site, no pitch deck e nas redes sociais? Se sim, está no ponto certo.
Presença digital mínima, porém estratégica:
Uma landing page clara, com proposta de valor bem articulada, e perfis sociais coerentes já resolvem boa parte da credibilidade. A primeira impressão importa muito para early adopters e potenciais investidores.
Narrativa alinhada ao problema e à oportunidade:
A startup deve comunicar rapidamente:
- o que faz,
- para quem faz,
- por que isso importa agora.
Nesta fase, o branding funciona como um sistema de sobrevivência comunicacional: suficiente para gerar confiança e tração sem exigir grandes investimentos.
2. Fase de Tração – Organização, clareza e narrativa mais madura
À medida que o produto amadurece e a empresa passa a conquistar tração real — mais clientes, novas funcionalidades, modelos de preço mais claros, entrada em novos canais — o branding deixa de ser apenas uma apresentação visual e se torna uma ferramenta de clareza estratégica.
É nesta etapa que muitas startups começam a sentir “ruído”: cada pessoa explica o produto de um jeito, o marketing comunica uma coisa, vendas diz outra, e o investidor entende uma terceira interpretação.
Esse desalinhamento enfraquece conversão, desacelera vendas e prejudica posicionamento competitivo.
Por isso, nesta fase, a empresa precisa trabalhar quatro pilares:
Padrão de nomenclatura e clareza de portfólio:
Com o aumento de funcionalidades, serviços e planos, a startup precisa definir como tudo será nomeado. Sem uma lógica clara, clientes não entendem diferenças, vendas perde eficiência e o marketing cria mensagens desalinhadas. Uma nomenclatura consistente evita retrabalho e sustenta a expansão.
Arquitetura de marca:
É nesta fase que se escolhe o modelo de estrutura da marca: monolítica, híbrida ou endossada.
Para a maioria das startups brasileiras, a marca única continua sendo a mais eficiente, mas roadmaps complexos podem exigir modelos híbridos. Essa definição impede que cada produto pareça uma empresa distinta e mantém a percepção unificada.
Evolução da identidade visual e verbal:
A expressão inicial da marca já não sustenta a complexidade da operação. Agora, é necessário um sistema mais estruturado, com:
- paleta ampliada,
- hierarquia tipográfica,
- componentes visuais consistentes,
- tom de voz definido,
- mensagens-chave para públicos diferentes,
- padrões de escrita para marketing, vendas e produto.
É quando a marca deixa de ser “um logo e um texto improvisado” e se transforma em um sistema completo de expressão, capaz de comunicar com clareza em qualquer canal e por qualquer pessoa do time.
Aprimoramento da narrativa estratégica:
A história inicial (centrada apenas na dor e no problema) não acompanha mais o estágio do negócio. A startup precisa evoluir sua narrativa para explicar:
- por que sua solução é diferente,
- como ela se posiciona na categoria,
- qual movimento de mercado está liderando,
- o que muda para o cliente ao adotar o produto.
A narrativa precisa ser clara, madura e replicável por todo o time. Esse alinhamento fortalece aquisição, facilita vendas e prepara o discurso para rodadas futuras.
3. Fase de Scale-up – Crescimento acelerado, novos mercados e alto volume de comunicação
Com mais usuários, novos times, campanhas maiores e expansão geográfica, a marca passa a ser um pilar operacional. Inconsistências se tornam mais caras e mais visíveis ao público.
Nesta fase, o branding deve resolver problemas de escala e governança. Os focos são:
Sistema de identidade robusto:
Um design system completo garante consistência visual em todos os pontos de contato, do produto às campanhas. Isso reduz fricção entre equipes, acelera produção e diminui erros de comunicação.
Brandbook funcional e vivo:
Deve ser um guia usado no dia a dia, não um PDF esquecido. Precisa alinhar:
- narrativa,
- posicionamento,
- tom de voz,
- diretrizes visuais,
- guidelines de campanha,
- orientações para fornecedores e equipes
Integração forte entre branding, marketing, produto e vendas:
A marca começa a direcionar decisões estratégicas:
- entrada em novos mercados,
- mudanças de produto,
- narrativa de diferenciação,
- campanhas institucionais.
O branding deixa de ser estética e se torna infraestrutura estratégica.
Diretrizes avançadas de design e comunicação:
A marca precisa operar de forma consistente em qualquer país, vertical ou time. Aqui surgem padrões mais rígidos, que funcionam quase como um “manual de operação”.
Propósito, valores e comportamento integrados ao negócio:
A marca passa a orientar:
- como a empresa atende,
- como se posiciona publicamente,
- como assume erros,
- como comunica novas iniciativas,
- como toma decisões internas.
A marca vira um sistema de coerência organizacional.

Brand equity não é sobre logo: fatores essenciais para qualquer fase
Valor de marca se constrói ao longo dos ciclos de vida e está em tudo que entrega experiência ao usuário, não apenas no visual. Conteúdos aprofundados sobre branding mostram que entre os principais fatores de brand equity estão:
- Reconhecimento: as pessoas sabem seu nome?
- Associação: o que seu produto simboliza?
- Consistência: discurso e experiência andam juntos?
- Liderança e diferenciação: sua marca aponta o futuro do seu mercado?
- Experiência e reputação: o que seus clientes realmente dizem?
Quem ignora ou posterga branding sente esses impactos após. Em muitos casos, ajustar a marca custa mais do que teria custado fazê-la bem desde o início. Sete erros comuns de branding já prejudicaram dezenas de cases.
Branding, produto e crescimento: coloque a marca na mesa da estratégia
Branding não é um detalhe estético. É o sistema que dá direção, clareza, percepção de valor e coerência ao crescimento.
Na Klyro, ajudamos startups e empresas de tecnologia a conectar marca, posicionamento e narrativa para que o crescimento real venha acompanhado de crescimento de percepção, algo essencial em mercados competitivos.
Quer entender como fortalecer a trajetória da sua startup? Veja estratégias detalhadas para crescimento ou agende um diagnóstico com a nossa equipe. Nossa missão é ajudar startups e negócios de tecnologia a criarem marcas valiosas para os próximos anos.
Conclusão
Começar a construir a marca desde o primeiro dia abre portas para investimentos, parcerias e credibilidade.
Escalar esse ativo ao longo das fases do negócio traz sustentabilidade, diferenciação e prepara o caminho para voos maiores.
Branding bem-feito não é opcional: é o que separa negócios passageiros de empresas longevas.
Perguntas frequentes
O que é branding para startups?
Branding é o conjunto de estratégias que une propósito, identidade e percepção de valor de uma empresa, criando reputação e conexão com clientes, investidores e parceiros. Para startups, vai além do visual: é pensar em como contar uma história sólida, transmitir confiança e diferenciar a solução em mercados cada vez mais concorridos.
Quando devo começar a investir em branding?
O trabalho de branding começa já no dia em que o fundador decide criar o negócio. Como mostramos, a marca se torna um ativo valioso em rodadas de investimento, negociações e posicionamento de produto. Ao retardar esse processo, a startup perde timing e competitividade.
Como criar uma marca forte desde o início?
Escolha um nome claro, defina um propósito inspirador, estabeleça uma identidade mínima consistente, garanta presença digital simples e mantenha clareza narrativa.
Branding vale a pena para negócios pequenos?
Vale, sim. Negócios pequenos se beneficiam porque branding bem-feito atrai oportunidades, transmite profissionalismo e prepara a empresa para crescer. Mesmo com recursos limitados, alinhar nome, propósito, apresentação e experiência de cliente faz enorme diferença para percepção de valor e crescimento.
Quais erros evitar ao construir branding?
Evite deixar a marca para depois de produto, subestimar o registro de nome, não ter uma declaração clara de propósito, trocar de identidade sem motivo e deixar cada plataforma com um visual diferente. Outro erro comum é não definir como os produtos serão nomeados, gerando confusão e retrabalho. Consistência e planejamento devem caminhar juntos em todas as etapas.